Por Raiani Ferreira
O PRIMEIRO BUDA
O fundador do budismo foi Siddhartha Gautama, se estima que ele tenha vivido entre os anos de 563 a 483 a.C.. Apelidado de Sakyamuni, por ser da tribo Sakya, o príncipe nasceu em meio a muita luxúria. A lenda conta que ele saiu de seu palácio quatro vezes e encontrou-se com um homem idoso, um homem doente, um cadáver e um benzedeiro. Esses encontros o fizeram entender quão frágil e passageira é a vida, mas que todos teriam que enfrentar a doença, a velhice e a morte. O benzedeiro, por sua vez, era o único que apresentava uma solução diferente.
Siddharta Gautama
(Fonte: Site The Guibord Center)
O príncipe renunciou sua vida de luxuria e foi atrás da religião, como tentativa de buscar sua salvação. O título de Buda significa “o acordado”, “o iluminado” e foi dado à Siddharta após seu percurso de meditação embaixo de uma árvore. Buda passou o resto de sua vida viajando pela Índia em busca de expandir suas 4 verdades, sendo elas: Toda existência está sofrendo; a causa do sofrimento está no desejo do homem; o desejo pode ser eliminado e vivendo uma vida religiosa você finalmente será liberado desse ciclo de existência. Ele entrou na Nirvana quando partiu dessa vida física, provavelmente em 483 a.C., com 80 anos.
A flor de lotus é o símbolo representativo do budismo e fala sobre a pureza da verdade de Buda que sobressai a ignorância do homem, assim como a flor que cresce no lodo.
O PAPEL DE KUKAI NO BUDISMO
A escola do sul de Budismo representa os antigos, onde eles acreditam que só a vida no monastério seria capaz de te levar a Nirvana. Mahayna, o budismo do norte, já acredita que a salvação está aberta a todos.
A doutrina de Mahayna foi considerada o budismo esotérico. Kukai, um dos representantes do esoterismo, viajou para China e entrou em contato com os ensinos de Shingon, que dizia que a verdade do budismo deveria ser passada também através de arte e rituais, não apenas de escrituras.
Kukai
(Fonte: Site Wikipédia)
A série de rolos de Philadelphia é composta por 11 desenhos que desde o nascimento de Kukai até o início de sua infância. Quando criança, Kukai conseguia afastar espíritos ruins através de sua alma pura e seu alto nível de espiritualidade. Por esses fatores, já era possível saber que ele seguiria uma vida religiosa e com grandes feitos. Em uma obra ele é representado apontando seu pincel para duas figuras malignas e com essa ação se mostra que nenhum mal será mais poderoso do que as palavras divinas e os pinceis que as escrevem. Os créditos pela criação do sistema silabário do kana japonês muitas vezes são dados a Kukai. Os desenhos dessa série são simples, mas com muitas cores e isso foi feito intencionalmente para os fiéis que não sabiam ler.
Apontando seu pincel
(Fonte: FISHER, 1991, p.17) 31.7 x 45.7 cm
Os artistas budistas gostavam de representar os bodisatva. Esse papel religioso é realizado por pessoas iluminadas, que em sua compaixão altruísta, renunciam entrar no estado de Nirvana para ajudar os fiéis que buscam a salvação.
FUGEN ENMEI
Fugen é o bodisatva da virtude universal. No budismo esotérico ele é representado como Fugen Enmei e é adorado pela sua capacidade de prolongar a vida. Nessa imagem o corpo da divindade é pintado com poeira de ouro e delineado em vermelho, ele possui 20 braços e a sua coroa de ouro contém cinco budas. Atrás dele possui uma áurea multicolorida que é envolta pelo branco. Ele se encontra sentado em um trono que é sustentado por seus elefantes.
Pinturas de Fugen Enmei são mais difíceis de se encontrar. Existe nessa obra o dourado na coroa, as joias e outros atributos que são uma construção de pigmento na seda, colocados de forma a enaltecer o ouro.
Fugen Enmei
(Fonte: FISHER, 1991, p.8.) 103.5 x 55 cm
Versão similar
(Fonte: Site Wikimedia commons, 2019)
MANDALA ESTRELA
No budismo esotérico se usa a Mandala Estrela em rituais de prevenção de desastres naturais. No centro da figura pode-se ver o Buda Amida, sentado em seu trono de lótus e carregando joias, ele se encontra em meio a nuvens e o céu atrás dele é composto por um verde azulado que representa a noite. Existe também dois grupos de divindades que circulam Amida, o grupo externo representa os 36 deuses estrelares, também vistoso como guardiões. O conjunto interno é composto por um coletivo chamado de mansões lunares, existe no total 28 entidades e cada entidade representa uma constelação especifica. O nome e o local onde se encontram as constelações está baseados na astronomia chinesa.
Mandala Estrela
(Fonte: Site Philadelphia Museum of Art)
MONJU
Monju é o bodisatva que representa a sabedoria de Buda. Nessa imagem Monju é apresentado por Ikkei Monju, ikkei significa “um topete” e é a quantidade de topetes que ele possui nessa imagem, os valores podem variar entre um, cinco, seis e oito. Esses números representam a quantidade de sílabas que possuí seu mantra secreto. A sílaba sânscrita que forma o mantra está localizada no canto superior direito do desenho, em seguida está o nome da divindade. Os outros seis caracteres falam “joias no lótus azul” e fala sobre o instrumento utilizado para representar Monju. Com sua mão direita ele mostra o gesto de “cumprir seu voto”.
Ikkei Monju
(Fonte: FISHER, 1991, p.10.) 27.4 x16.4 cm
JIZÕ
Protetor dos fracos, como os doentes, as crianças, os viajantes e as mulheres durante o trabalho de parto, o bodisatva Jizõ é representado por uma figura divina, mas também humanizada. O ouro em sua roupa e em suas duas áureas mostram que ele é uma divindade. A técnica utilizada para a colocação desse ouro na seda se chama arahaku e é utilizada para criar uma áurea de outra dimensão, o material é colocado por trás do tecido. Ele é o único bodisatva representado com seu cabelo raspado e de roupão de um sacerdote budista. O olhar sereno dele para o admirador demonstra sua compaixão.
Jizõ
(Fonte: FISHER, 1991, p.12.) 84.8 x 40cm
Versão colorida
AMIDA BUDA
O buda Amida é conhecido por iluminar todos os seres e por realizar a transferência da consciência do homem após a sua morte e leva-la a terra pura. A escultura de Amida foi feita no final do século 13, por um aluno da escola de Kakei. Nessa obra podemos ver um direcionamento ao naturalismo, ela tem traços muito delicados e que lembram o estilo antigo de arte japonesa. A construção dessa peça usa a técnica chamada yosegi. O corpo e a cabeça são formados pela junção de pedaços de madeira cipreste. A peça possui olhos de cristal e uma expressão serena. Inicialmente ela carregava muito ouro e alguns traços ainda estão conservados, como o padrão criado nas mangas da veste. Amida dá as boas-vindas aos seus fieis em meio a nuvens celestiais e isso está representado no pedestal.
Amida Buda
(Fonte: FISHER, 1991, p.13.) 77.2 cm
LEÕES NO BUDISMO
Os Leões são associados a Buda pela sua autoridade e pela representação de um guardião. Na China a função do Leão como um guardião é reforçada pela presença de felinos na entrada de túmulos. Alguns guardiões tem apenas 1 chifre e a representação do Leão no Japão geralmente carrega esse traço, eles também são chamados de “Kama-inu” ou “Korean dog”, que seria cachorro coreano. Existe nessa obra um casal de Leões, a fêmea com a boca aberta e o macho com a boca fechada, outro sinal que se pode perceber é a presença de um traço clássico da escultura Kamakura, a posição das patas, uma em frente a outra, e a posição do pescoço levemente virado. A característica que se sobressai nessa arte são as crinas onduladas que descem até o começo do peito e o olhar profundo do felino, com sua função de amedrontar.
Estátuas do Leão budista
(Fonte: FISHER, 1991, p.14) 59.7cm
DURAMA
O primeiro influente do zen budismo foi Durama. Pouco se sabe sobre ele, apenas que ele foi um monge viajante que nasceu na Índia e que agia através da cura de doentes. Os artistas japoneses o representavam com base nos materiais trazidos anteriormente da China. Ele foi mostrado como um monge de roupão e com traços indianos, com sua barba e sobrancelhas cheias, orelhas longas com joias e um olhar de concentração.
Durama
(Fonte: FISHER, 1991, p.21.) 73.6 x 27.3cm
ZEN BUDISMO
A modalidade Zen Budismo dá suporte ao autoconhecimento, e a intuição que levará ao verdadeiro conhecimento. Muita meditação e concentração eram necessárias. Atividade simples como treinar caligrafia ou fazer uma xicara de chá precisavam de disciplina. Esse conhecimento veio da China, através de professores, que trouxeram consigo caligrafias e pinturas. O material trazido serviu de base para a produção da arte zen budista japonesa. O conhecimento dessa vertente era passado majoritariamente através da oralidade e existe muito respeito entre o mestre e o servo.
O pardal é um animal muito homenageado por artistas do zen budismo, ele possui uma fluidez de movimentos e leveza ao voar que fazem analogias ao iluminar da alma. O artista que fez essa obra se chama Shokado Shojo, ele possuía muita intimidade com o pincel e é possível notar isso na leveza de seus traços e na pouca tinta usada
Pardal e Bambu
(Fonte: FISHER, 1991, p.20.) 30.4 x 53.3 cm
REFERÊNCIAS:
FISHER, Felice. Japanese Buddhist Art. Vol 87, No.363, 1991.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Amitaba#:~:text=Amitaba%2C%20Amitabha%20ou%20Amida%20(do,purifica%20o%20carma%20do%20desejo.
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