Afrodite de Cnido, cópia romana em mármore a partir de original de Praxíteles. Foto: Carole Raddato, 13/02/2013, CC BY-SA 2.0
As esculturas do período helenístico tiveram três fases: a primeira fase foi um período de transição, que perdurou até 250 a.C, em que os novos traços são observados; na segunda fase, a do “barroco helenístico” (250 a.C a 150 a.C), as esculturas têm expressões exageradas e intensas; na última fase (150 a.C a 30 a.C), durante a ocupação romana no Egito, houve uma revalorização de traços vistos no Período Clássico.
Apesar de ser um exemplar do Período Clássico tardio, Afrodite de Cnido é uma escultura que demonstra características que serão mais importantes no Período Helenístico. Os quadris estão angulados, o que sugere que a obra deve ser apreciada em todos os lados devido a movimentação pois há uma sucessão de imagens diferentes. Nesta obra, Praxíteles não só se importou com a forma, mas sim com outros elementos que compõem a escultura, como a luminosidade e o sombreado, que acentuam as curvas. O escultor quer representar o que ele vê, não o que é, renunciando a natureza como mestre e aceitando a experiência visual como ponto de partida. Aristóteles diz que o artista não deve usar a imitação como cópia exata, mas sim como produção para a arte.
Como falado anteriormente, a busca da representação corpo ideal não é algo que preocupa os artistas do Período Helenístico: crianças, pessoas idosas, mulheres e cenas domésticas ou cômicas se tornaram objetos de arte, os artistas tentam representar a realidade e todos esses elementos interessam igualmente ao artista. Essas seriam comissionadas por famílias ricas para decorar suas casas e jardins.
Velha bêbada com jarro de vinho, cópia romana em mármore a partir de original de Míron. Foto: Matthias Kabel, 2005, CC BY-SA 3.0.
Os bustos também estão presentes: são retratados filósofos, reis e atletas, não mais o cidadão perfeito, mas sim figuras ilustres. Suas representações têm o objetivo de mostrar as virtudes pessoais que são reconhecidas nessas figuras. Atributos individuais, como a barba, a postura, a nudez e detalhes apropriados do traje e do corpo são enriquecidos pelo realismo pesado do Período Helenístico.
O Grupo do Lacoonte tem 1,84 metros de altura, e foi descoberto em 1506, quando foi imediatamente vista por Michelangelo, célebre artista italiano dos séculos XV e XVI. Lacoonte era um sacerdote troiano que foi atacado, junto com seus filhos, por víboras gigantes enviadas pelos deuses gregos. Desde a sua escavação, a obra se tornou objeto de estudo de muitos artistas aspirantes do Renascimento e foi importante para a criação do conceito de arte clássica no período - durante o Renascimento, tudo aquilo que era antigo era considerado como “clássico”.
Laaconte e seus filhos, cópia em mármore a partir de original de Atanado, Hagessandro e Polidoro. Foto: JuanMa, 2008, CC BY-SA 3.0
Foi só no final do século XVIII e durante o século XIX que começaram a distinguir o Período Helenístico (séculos IV até II a.C.) do Período Clássico (séculos V até a metade do IV a.C.). Felice de Fredi foi recompensado vitaliciamente pela descoberta da estátua. Plínio, o Velho, no volume 36 da sua Naturalis Historia, descreve a escultura como uma obra de arte superior a qualquer pintura ou bronze conhecido pelo autor. A obra é um expoente do “barroco helenístico”.
Outra obra representativa do helenístico, o Altar de Pérgamo foi construído por Eumenes II, governante de Pérgamo, no auge do poder da dinastia dos atálidas em Pérgamo. Foi encontrado por C. Humann em 1871, as partes foram levadas à Berlim e reconstituídas com o que restou das esculturas originais no Museu do Pérgamo. A ara é dedicada a Zeus e Atena, após a segunda vitória sob os gálatas, está repleta de cenas e histórias da mitologia grega.
O Altar de Pérgamo, reconstruído em Berlim. Foto: Lestat (Jan Mehlich), 2007, CC BY-SA 3.0.
A entrada do altar é uma grande escadaria e há frisos por toda a parte que representam a gigantomaquia, a luta entre os gigantes e os deuses do Olimpo, e as histórias de Télefo, descendente de Héracles. O friso externo, que foi construído por vários artistas sob a direção de um só mestre, representa uma história cósmica-mitológica, o artista investiga diversos elementos da mitologia grega: as figuras dos gigantes, dos gênios alados, de divindades menores, estranhas combinações de humano e bestial, de belo e monstruoso, conclui, no lado leste, frontal, com os deuses do Olimpo.
Na pintura, há um grande número de retratos de paisagens e o grande progresso do mosaico. Os romanos produziam imagens inspiradas tanto como cópias em mosaico ou em afresco de pinturas gregas, também empregando artistas gregos diretamente. São poucas as pinturas e mosaicos que podemos ver hoje. Muitas das descrições vêm da literatura e vários dos afrescos romanos que conhecemos hoje são, provavelmente, cópias de originais gregos. Eram usadas as técnicas de secco e fresco. A técnica de secco usava goma-arábica e têmpera para aglutinação dos pigmentos em mármore e outras pedras e apenas para toques finais em pinturas de parede, enquanto fresco era a principal técnica para pintura de paredes e de pedras. Os pigmentos eram naturais e de origem inorgânica, como, por exemplo, terra verde, ocre vermelho e amarelo, jarosita vermelha e amarela, cinabre, realgar, auripigmento, carbonato de cálcio, caulinita e alúmen), compostos sintéticos inorgânicos (por exemplo, azul egípcio, branco de chumbo), assim como corantes orgânicos (por exemplo, azul tirano e lago vermelho).
A pintura de paisagens no período no helenístico investigava o cotidiano pastoral e os elementos mitológicos. Panoramas de frisos e mosaicos também representavam cenas da literatura e poesia como as de Herodas e Teócrito. Essas imagens do pastoreio são transmitidas no Mosaico do Nilo de Palestrina.
O mosaico de Preneste, autor desconhecido. Foto: LPTL, 09/02/2010, CC BY-SA 3.0.
O mosaico de 4,3 por 5,85 metros adornava um recanto de um santuário de Palestrina (antiga Praeneste), Itália. A imagem demonstra o fascínio dos romanos pelo Egito no Período Helenístico tardio. O mosaico retrata o Rio Nilo e sua trajetória pela Etiópia, rumo ao Mediterrâneo.
Há uma série de pinturas que representam a Era Ptolemaica do Egito feitas por artistas Helenísticos.
O desenvolvimento do mosaico no Período Helenístico começou com mosaicos de seixo. Seguindo esse exemplo, outros materiais começaram a ser usados, como a terracota. A terracota permitia que os artistas dessem mais forma e definição para os mosaicos.
Mosaico de Tmuis (Mendés), Egito, criado pelo artista Helenístico Sophilos (nome assinado) em meados de 200 a.C; a mulher retratada é a rainha ptolomaica Berenice II como personificação de Alexandria.
Pinturas de paredes eram mais presentes no período Pompeiano. Eram exibidos em templos e ou tumbas, mas também para decorar as paredes de casas. Foram comuns em Delos, Priene, Tera, Panticapaeum, Olbia e Alexandria.
Os gregos representavam elementos tridimensionais e utilizavam recursos de luz e sombra. Poucos exemplares helenísticos sobreviveram, somente painéis de madeira e aqueles pintados em pedra. O exemplar mais famoso são as pinturas em pedra encontradas na Tumba Macedônica em Agios Athanasios, Grécia, na região da Tessalônica.
Cena de um banquete na tumba de Agios Athanasios, Thessaloniki, em meados de IV a.C.
A arquitetura segue um modelo parecido com a escultura no Período Helenístico: ela é provida de teatralidade, e coloca em destaque a experiência do espectador. O planejamento urbano estava seguindo novas tendências; ao invés de manipular o espaço para adequar as construções, os planejamentos se conformavam com o cenário natural. A arquitetura helenística também era marcada pelo gigantismo: o Templo de Apolo em Dídimos era um templo e oráculo que foi destruído pelos Persas em 493 a.C., mas um restauro foi planejado a partir de 334 a.C., no entanto jamais concluído. Se completado, seria um dos maiores templos já vistos no Mediterrâneo.
Templo de Apolo, projetado pelos arquitetos Paionios de Éfeso e Daphnis de Mileto.
Os principais centros onde a arquitetura helenística floresceu foram as antigas cidades de Pérgamo, Olynthus e Atenas, onde a ordem coríntia foi usada em grande escala. O coríntio introduziu um novo componente, o plinto, que ficava em cima da base de pilares, com intuito de elevar a estrutura e deixá-la mais aberta para a luz e atmosfera. A construção desses edifícios seguem a tendência de abrir o espaço com intuito de tornar o ambiente mais naturalista e luminoso.
O ofício de metais e pedras preciosas no Período Helenístico segue os costumes do Período Clássico. Nas peças metálicas são gravadas imagens de bustos ou figuras do panteão, e foi descoberta a técnica de vidro soprado, que permitia que os gregos pudessem dar novas formas para as obras de arte. Destaca-se a produção de camafeus e o uso de jóias vindas do oriente.
Como falado anteriormente, muitas das obras helenísticas a que hoje temos acesso são cópias romanas. Um dos poucos exemplares originais disponíveis é a A Vitória Alada de Samotrácia: boa parte da escultura foi perdida, e então ela foi restaurada, sendo que a estátua se encontra no Museu do Louvre, em Paris. A escultura é repleta de detalhes que reproduzem o movimento: a roupa carregada de pregas acomodadas ao corpo é atingida por vórtices do ar gerado pelo seu voo, o que induz ao movimento do pano da roupa que ainda é percebido na obra apesar da perda de algumas peças que constituíam a escultura.
A arte helenística, principalmente suas esculturas, concebeu para com mundo o valor expressivo, representações anatômicas sublimes e detalhes ornamentais; as obras de arte do período serviram de grande influência para artistas do Renascimento, mas principalmente para o Barroco, que assim como o Rococó, são as vezes comparados às artes deste complexo período. Há uma tendência de referir ao Período Helenístico como decadente apenas por suceder a “Era de Ouro” da Grécia Clássica, talvez com as descobertas recentes de tumbas do Império Macedônico podem permitir uma apreciação maior do período.
Fontes:
- RODRIGUES, Wladimir – História da Arte, Módulo 1. Idade Antiga ao Renascimento: As origens das tradições estéticas.
- RIBEIRO JR., W.A - A arte helenística. Portal Graecia Antiqua, São Carlos. URL: greciantiga.org/arquivo.asp?num=0421. Consulta: 26/11/2020.
- RIBEIRO JR., W.A - A escultura helenística. Portal Graecia Antiqua, São Carlos. URL: greciantiga.org/arquivo.asp?num=0441. Consulta: 26/11/2020.
- RIBEIRO JR., W.A - A pintura helenística em painéis. Portal Graecia Antiqua, São Carlos. URL: greciantiga.org/arquivo.asp?num=0497. Consulta: 26/11/2020.
- RIBEIRO JR., W.A - A arquitetura helenística. Portal Graecia Antiqua, São Carlos. URL: greciantiga.org/arquivo.asp?num=0436. Consulta: 26/11/2020.
- RIBEIRO JR., W.A - Obras helenísticas diversas. Portal Graecia Antiqua, São Carlos. URL: greciantiga.org/arquivo.asp?num=0498. Consulta: 26/11/2020.
- RIBEIRO JR., W.A - Laocoonte e seus filhos. Portal Graecia Antiqua, São Carlos. URL: greciantiga.org/img.asp?num=0671. Consulta: 26/11/2020.
- MORAIS, Grasiela – Arte na Grécia: Arcaico, Clássico e Helenístico. Disponível em: https://docplayer.com.br/3321230-Arte-na-grecia-arcaico-classico-e-helenistico-professora-grasiela-morais.html
- Ioanna Kakoulli (2002) Late Classical and Hellenistic paintings techniques and materials: a review of the technical literature, Studies in Conservation, 47:sup1, 56-57, DOI: 10.1179/sic.2002.47.Supplement-1.56
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https://courses.lumenlearning.com/boundless-arthistory/chapter/the-hellenistic-period/#:~:text=Key%20Points,on%20a%20new%2C%20monumental%20scale.- The History of Greece: Hellenistic. Disponível em:
https://ancient-greece.org/history/helleninstic.html- Hellenistic art. Disponível em:
https://en.wikipedia.org/wiki/Hellenistic_art#:~:text=Hellenistic%20art%20is%20the%20art,with%20the%20conquest%20of%20Ptolemaic- Argan, Giulio Carlo. História da arte italiana - vol 1. Trad. Vilma K. Barreto de Souza. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
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