Geometria Sagrada na Arte Islâmica


A Arte islâmica é a denominação dada à arte criada nas regiões onde o Islã predomina como religião. Dado isto, para se entender a arte é necessário primeiramente conhecer a religião. 

O islamismo surgiu no começo do século VIII por meio da obra de Muhammad (em português Maomé), o grande profeta dessa religião. Muhammad nasceu em 570 d.C., em Meca. Em 610 d.C., durante um isolamento para orar e meditar, Maomé teria recebido revelações de Deus (Allah) através do Arcanjo Gabriel. Maomé começou a espalhar estas revelações, que foram registradas pelos convertidos ao islamismo no Alcorão ou Corão, o livro sagrado do islã.

Nesta época, a religião praticada na Península Arábica era o paganismo politeísta, que gerava muitos lucros com peregrinação de fiéis. Como Maomé estava pregando monoteísmo, passou a ser perseguido pelas autoridades e precisou se refugiar em Medina. Este acontecimento ficou conhecido como Hégira e inaugurou o calendário islâmico.

Em Medina, Maomé se firmou como líder político e religioso, tornando-se chefe de Estado. O islamismo cresceu, tornou-se uma religião influente e se estabeleceu os preceitos do islamismo:

  • Crer unicamente em Allah;
  • Rezar 5 vezes ao dia voltado à direção de Meca (esta direção recebe o nome de qiblah e é marcada em todas as mesquitas);
  • Jejuar no mês do Ramadã;
  • Realizar o zakat, a doação de 2,5% de seus lucros para os mais pobres;
  • Visitar Meca uma vez na vida, desde que se tenha condições para isso.

Em Meca, os muçulmanos (denominação dos seguidores do islamismo) devem ir à Caaba, que significa cubo em árabe, um edifício quadrado coberto por véu negro de seda e algodão, considerado o santuário mais sagrado do Islã.


EXPANSÃO DO ISLAMISMO E PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS

Após a morte de Maomé, houveram conflitos pela sua sucessão. Destas guerras civis, que marcaram o início da história política islâmica, surgiu a dinastia dos Omíadas, cuja capital era em Damasco, na atual Síria.

De lá, sob a orientação dos califas, começou a rápida expansão do Islã até a Palestina, Síria, Pérsia, Índia, Ásia Menor, Norte da África e Espanha. De origem nômade, os muçulmanos demoraram certo tempo para estabelecer-se definitivamente e assentar as bases de uma estética própria com a qual se identificassem.

Os omíadas foram os responsáveis pelos primeiros grandes monumentos da arte e arquitetura islâmica, como por exemplo o santuário Domo da Rocha, em Jerusalém. Leva este nome por ter sido construído em torno de uma rocha considerada sagrada pelo islã. 


Domo da Rocha, em Jerusalém, uma das primeiras construções da arquitetura islâmica


O tradicional contorno das construções, como o utilizado em Caaba, agora era feito ao redor da rocha dentro do santuário. O Domo da Rocha foi decorado com mosaicos de vidros dourados com padrões de árvores, videiras e coroas. Mas ainda os arabescos não tinham sido desenvolvidos.

No entanto, uma linha de caligrafia circula a cúpula. Isto nos avisa que a caligrafia é um dos elementos principais da sua ornamentação islâmica, porque dizem que Maomé recebeu a mensagem de Deus por escrito. A escrita tem um valor muito grande aos muçulmanos, e por isso a caligrafia árabe é tão ornamentada, fluida e decorativa.

A estética da arquitetura ainda não estava definida. Adotaram, então,  métodos de arte e traços estilísticos dos povos conquistados. Foi assim que as cúpulas bizantinas coroaram suas mesquitas e os esplêndidos tapetes persas, combinados com os coloridos mosaicos, as decoraram. Aparentemente sensual, a arte islâmica foi na realidade, desde seu início, conceitual e religiosa.


A ARTE ISLÂMICA

O termo arte islâmica é um conceito moderno criado por historiadores do século XIX para facilitar a categorização deste material produzidos pelos povos islâmicos, surgidos na Arábia no século VII. Mas a expansão destes povos pelo mundo tornou o termo mais abrangente e atualmente se refere a um mundo onde o islã é a religião dominante ou é uma grande força cultural, agora com sua personalidade definida.

Vamos falar sobre as Mesquitas, ou masjid em árabe, um edifício de arquitetura islâmica por excelência.

Estas são algumas das características arquitetonicas comuns nas Mesquitas:

  • Presença de um centro principal de oração. Em algumas mesquitas é um pátio aberto (sahn);
  • Mihrab, um nicho na parece que indica a direção de Meca (qiblah). É o foco direcional da oração;
  • Minarete, a torre de onde é anunciado o chamado à oração;
  • Domo ou cúpula (qubba), a representação simbólica da abóbada celestial. Este simbolismo é enfatizado usando diversos motivos geométricos, estrelados ou vegetais, para criar padrões destinado à ligar com Deus.

As figuras com formas humanas e animais não podem ser utilizados na decoração de mesquitas e construções religiosas do islã, para evitar idolatria. Por isto, a arte islâmica entra num complexo uso de padrões geométricos.

Estudar a arte do mundo islâmico é desafiador por causa do alcance geográfico enorme e cronológico também. Este estudo engloba 1300 anos de história. Por esta ‘mistura’ de características, a arte islâmica influenciou muitas culturas.

Como exemplo disto temos a Mesquita de Córdoba, na Espanha. 


Mesquita de Córdoba, na Espanha, exemplo de influência da arte islâmica em outras culturas


Esta mesquita é uma das estruturas mais antigas ainda em pé da época que os muçulmanos governavam o Al-andaluz, que é a Ibéria muçulmana, compreendida pela maior parte da Espanha, Portugal é uma pequena parte do sul da França. 

Este local era originalmente um templo de adoração ao deus romano Janus. Com a invasão dos visigodos e seu cristianismo, tornou-se uma igreja. Após a derrubada em Damasco pelos abássidas, os omíadas fugiram para o sul da Espanha, sob o reinado do príncipe Abd Al-Rahman. Uma vez lá quis reproduzir em Córdoba a grandeza de Damasco e transformou a igreja em mesquita. Quando os cristãos retomaram o poder na Espanha, construíram uma catedral no centro da mesquita, porém mantiveram a mesquita.

O salão de orações parece ampliado por sua repetição geométrica. O ponto focal de orações, mihrab, é decorado por arco primorosamente decorado com tesselas de ouro, em estilo de ferradura. Este estilo foi uma herança dos visigodos, que lá antes estiveram, e se espalhou pelo norte da África, do Marrocos ao Egito.


Mihrab na Mesquita de Córdoba


Acima do mihrab está a cúpula, construída de nervuras cruzadas que criam arcos pontiagudos, todos cobertos com mosaicos de ouro em um padrão radial.

Muitas vezes a arte islâmica usa uma repetição de padrões que serve para dissolver e dissimular a matéria. Porque para eles, a arte não deveria reproduzir o mundo real mas sim transcender as aparências dos objetos. Assim remetendo ao infinito.

Estes excessos de formas geométricas e repetição de padrões tiram o foco do olho, não focando em apenas um ponto, um elemento. É como se não houvesse a limitação da matéria, remetendo a sensação de transcendência do mundo material. 


Uma das cúpulas da Mesquita de Córdoba e suas formas geométricas


Ainda na Espanha temos o castelo de Alhambra em Granada.

 

Castelo de Alhambra, em Granada, sul da Espanha


Um dos aposentos deste palácio, o Salão Abencerrajes, tem um elemento muito importante da arte islâmica, as muqarnas, divisões geométrica de uma cúpula, toda ornamentada, chamada também de cúpula Favo de Mel, por ter finas células entrelaçadas que remetem ao favo. O propósito é criar uma zona de transição suave e decorativa de um espaço estrutural. 


Muqarnas, também conhecida como cúpula Favo de Mel


Para o islã, embelezar o mundo é divinizá-lo. Por isto utilizam de estruturas de incrível beleza que levam o expectador ao êxtase, à transcendência da matéria e ligação com o que não se vê.

O uso de elementos tão característicos desta expressão artística remetem a este objetivo. Podemos citar: 

  • Sebka, uma espécie de rede de losangos, é um padrão decorativo geométrico muito utilizado, cria uma sensação de leveza;
  • Arabescos, padrões geométricos que seguem um ritmos;
  • Gavinhas, estruturas vegetais entrelaçadas;
  • Palmetes, palmeira típicas dos desertos, que remete muito ao passado e tradições árabes.

Para finalizar este artigo, falaremos de um dos maiores monumentos da arte islâmica, e uma das sete maravilhas do mundo moderno, o Taj Mahal, localizado em Agra, Índia.


Taj Mahal, mausoléu real em Agra, Índia


O Taj Mahal é um mausoléu real, construído pelo imperador Shah Jahan em memória da sua amada esposa Aryumand Banu Begam, chamada por ele de Mumtaz Majal (a jóia do palácio), falecida ao dar à luz ao 14º filho.

Construído em mármore branco, ornamentado com versos do Alcorão escrito nas paredes, pedras preciosas e semi preciosas incrustadas, temas florais. O Taj Mahal é ladeado por minaretes ornamentais (são somente decorativos e não funcionais), sendo uma mistura de influências persas, indianas e islâmico, trazendo a questão do quão sincrético é a arte islâmica. 

Uma arte que diz sobre a cultura, força e conquistas dos povos que foram dominados pelo islamismo. Com suas cores, formas, a busca pelo belo que transcende a existência material e busca se ligar com Deus. 

Por Karina Strapasson
       Kelly Cristina de Araujo
       Mariana Dutra



Referência:

Caiafa, Fernando. Arte Islâmica - História da Arte (Aula 10). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=oviSUzPbVRY&t=116s. 33:37.

Pinheiro, Chistiane. História da Arte - Arte Islâmica Parte 1. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=EO4v03_jNw8&t=8s. 12:34.

Pinheiro, Chistiane. História da Arte - Arte Islâmica Parte 2. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=TxVibKRNE9k&t=39s. 15:32.

Pinheiro, Chistiane. História da Arte - Arte Islâmica Parte 3. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=uY2UUnqMhu0&t=80s. 9:56.

Pinheiro, Chistiane. História da Arte - Arte Islâmica Parte 4. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=uY2UUnqMhu0&t=39s. 14:54.



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